Manhã de sábado, crianças assistindo televisão e, de repente, começa uma reportagem sobre a realidade de pobreza extrema na África, naturalmente, elas trocam de canal, desenho animado é bem melhor.
Sexta à noite, esposa assistindo televisão e, de repente, começa uma reportagem sobre a fome que grande parte dos africanos passa, naturalmente, ela troca de canal, novela é bem melhor.
Domingo à tarde, marido assistindo televisão e, de repente, começa uma reportagem sobre os principais jogadores de futebol da África, naturalmente, ele assiste, futebol é futebol.
Geralmente, as pessoas ignoram completamente a existência do pobre e quando, por ventura, se deparam com o mesmo, trocam de canal, afinal, tem coisas muito mais interessantes para serem feitas e "o pobre sempre existirá, inevitavelmente".
Colocar a culpa no sistema é uma desculpa esfarrapada, mas que tem certa lógica: uns poucos acumulam capital e a maioria esmagadora corre atrás de uma mísera parte desse dinheiro. Interessante, porém, certas pessoas nem oportunidade de correr tem. Culpa do sistema? "A sociedade sempre foi e sempre será assim."
Concordo com o fato de que aqueles que se esforçaram para ter um lugar à sombra (ao sol, é meio desconfortável...), merecem ter o tanto que tem. Mas e os que não tem? É porque não merecem?
Vivemos em uma sociedade extremamente consumista, na qual ter é bem mais importante do que ser, ou seja, tenho, logo, existo. Dessa maneira, na visão da parte rica da população, pobre não existe e, se existe, não faz a diferença. E quando esses mundos antagônicos se encontram, geralmente, é de forma violenta: roubos e por aí vai. Quem está errado: quem rouba para comer ou quem aceita passivamente o comportamento da sociedade?
Como diriam alguns: o pobre existe e está entre nós e cabe a nós ajudá-los.
Se você levou 5 minutos para ler esse texto, nesse tempo morreram 100 crianças de fome...
E você? Vai trocar de canal?
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